O arcebispo de Campo Grande, Dom Dimas Lara Barbosa, anunciou que "irá a Roma" para solicitar a mudança da data litúrgica de São Carlo Acutis, atualmente celebrada em 12 de outubro, mesmo dia dedicado a Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil.
Neste domingo, durante celebração na chamada Capela do Milagre — agora elevada à condição de Santuário de Nossa Senhora Aparecida e Carlo Acutis - Dom Dimas explicou que o pedido será encaminhado ao Vaticano, responsável por autorizar eventuais alterações no calendário litúrgico. “Vamos pedir a Roma para, no Brasil, comemorar o dia de Carlo Acutis em outro dia, porque não podemos depor Nossa Senhora para comemorar Carlo Acutis”, afirmou o arcebispo.
A coincidência das duas comemorações preocupa a Igreja Católica, já que a data é uma das mais importantes do calendário religioso brasileiro. A proposta é permitir que ambas as devoções sejam celebradas com o devido destaque, sem que uma ofusque a outra.
A decisão de elevar a paróquia da Vila Margarida a santuário marca um novo capítulo na devoção a São Carlo Acutis no Brasil. Foi em Campo Grande que ocorreu o primeiro milagre atribuído ao jovem italiano, reconhecido oficialmente pela Igreja Católica e fundamental para sua canonização. O caso envolveu o menino Matheus Lins Vianna, que em 2013 tinha apenas três anos de idade e sofria de uma rara anomalia no pâncreas, chamada pâncreas anular, que dificultava sua digestão e provocava vômitos diários.
À época, segundo a avó, Solange Lins Vianna, Matheus havia sido levado à Paróquia São Sebastião pelo avô, Elias Verão Luiz Vianna, muito debilitado e diagnosticado após diversos exames. “Vomitava muito, tratava-se como suposta intolerância à lactose, era desnutrido e, após ultrassom, foi diagnosticado o pâncreas anular, que dificultava sua digestão, provocando vômitos diários”, relatou.
Na missa de 12 de outubro de 2013, em celebração a Nossa Senhora Aparecida, uma relíquia de Carlo Acutis foi exposta pelo padre Marcelo. Matheus tocou a relíquia e fez um pedido simples: parar de vomitar. A partir daquele momento, o milagre teria acontecido. O menino chegou em casa e pediu comida. Comeu arroz com caldo de feijão e banana de sobremesa, e não vomitou. Após novo ultrassom, constatou-se a cura total da condição, e desde então ele nunca mais apresentou sintomas da doença.
“Se não há mais anomalias no pâncreas nem Matheus apresentou mais os vômitos constantes, não tenho motivos para me preocupar. A vida segue normal. Se adoece, procuro atendimento médico. Não temos nenhum temor dessa patologia voltar, mesmo porque já era uma anomalia antes do milagre ocorrer”, contou Solange.
Hoje com 15 anos, Matheus cursa a oitava série e foi diagnosticado com transtorno do espectro autista (TEA). Após a morte da mãe e do avô em 2024, ele segue em acompanhamento terapêutico e mora com a avó e o irmão Angelo.
“Para nós é uma grande satisfação vê-lo canonizado. É gratificante e justo que seja reconhecida a sua santidade. Torna-se exemplo a ser seguido por todos e também nos traz confiança de podermos contar com sua intercessão. Nossa família permanece eternamente grata”, disse Solange ao Correio do Estado.
O SANTO
Carlo Acutis nasceu em Londres, em 3 de maio de 1991, mas foi criado em Milão, na Itália. Desde cedo, demonstrou profunda devoção à Virgem Maria e um interesse especial pela fé católica. Apaixonado por computadores, usou sua habilidade tecnológica para evangelizar, criando um site que catalogava milagres e conteúdos religiosos. A iniciativa lhe rendeu o título de “padroeiro da internet” e o transformou em referência para a juventude católica. O jovem foi canonizado no último dia 7 de setembro.
Em 2006, aos 15 anos, Carlo foi diagnosticado com leucemia promielocítica aguda e morreu apenas quatro dias depois, em 12 de outubro, data que coincidentemente coincide com a de Nossa Senhora Aparecida. Em 2020, foi beatificado pelo papa Francisco, que o descreveu como um jovem que “não se acomodou numa imobilidade confortável, mas colheu as necessidades do seu tempo, porque viu o rosto de Cristo nos mais frágeis”.
Além do milagre ocorrido em Campo Grande, outro episódio foi reconhecido pela Igreja: a cura de uma jovem costarriquenha em 2022, após sua mãe rezar junto à tumba de Carlo na Itália. Esses dois casos foram determinantes para a canonização do beato, confirmada pelo Vaticano, que agora o reconhece oficialmente como santo da Igreja Católica.
Durante o sermão na Capela do Milagre, Dom Dimas destacou que a devoção a São Carlo tem aproximado jovens da Igreja e inspirado novas gerações de fiéis. “A Igreja só será jovem quando os jovens forem à Igreja”, disse. “São Carlo é um exemplo de jovem que conquista outros jovens, mas também adultos, crianças e idosos para o seguimento do Evangelho. Acho que essa deve ser a marca desta paróquia, porque, embora seja um santo jovem, não é um santo só dos jovens.”
Para Dom Dimas, a mudança da data litúrgica no Brasil reforçará o valor de ambas as devoções e permitirá que os fiéis celebrem tanto a padroeira quanto o novo santo com a devida atenção. “Não podemos tirar o espaço de Nossa Senhora Aparecida, que é mãe de todos os brasileiros. Mas também queremos celebrar Carlo, esse jovem que inspira os fiéis do nosso tempo”, concluiu o arcebispo.
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