A troca de prisioneiros entre o Hamas e a entidade sionista “Israel” foi concluída com êxito nesta segunda-feira (13/10). Vinte priosioneiros de guerra sionistas foram entregues, em contrapartida, à libertação de aproximadamente 2 mil prisioneiros palestinos, dos quais 250 cumpriam penas em masmorras sionistas e outros 1,7 mil haviam sido capturados ilegalmente – o que a entidade sionista chama de “prisão administrativa” – em Gaza desde o “Dilúvio de Al-Aqsa” em 7 de outubro de 2023. A operação foi supervisionada pela Cruz Vermelha e mediada por Egito, Catar e Turquia, no marco do cessar-fogo iniciado na última sexta-feira (10/10).
A libertação seguiu o cronograma acordado, com os reféns entregues em boas condições físicas, enquanto os prisioneiros palestinos começaram a deixar as prisões de Ofer e Ketziot ainda no fim de semana, a maioria em péssimas condições de saúde. Representantes da entidade sionista afirmaram que o transporte dos corpos de 28 reféns mortos seria concluído até o fim da semana, completando a primeira fase do acordo de trégua. A ONU e outras organizações acompanham o processo e denunciam a política de “prisões administrativas” e desaparecimentos forçados imposta contra milhares de palestinos desde 2023.
Em Ramallah e nas cidades do norte de Gaza, a libertação foi recebida com grande celebração popular, com bandeiras palestinas e cânticos em apoio à Resistência. Famílias se reuniram nas ruas para aguardar os libertos, a maior parte detidos sem julgamento. Contudo, pelo menos 154 palestinos foram “deportados” para países árabes como Tunísia, Argélia e Turquia – medida classificada pelo direito internacional como ilegal e desumana. O professor Tamer Qarmout, de Doha, afirmou ao monopólio de imprensa Al Jazeera que o exílio forçado “equivale a uma prisão maior, longe de sua terra e de sua família”.
Organizações palestinas também denunciaram o desaparecimento de prisioneiros sob custódia, com diversas denúncias de desaparecidos classificados como “deportados”, que acabaram vítimas do amplamente conhecido mercado de tráfico de órgãos conduzido pela entidade nazi-sionista – alvo de dezenas de investigações por organismos internacionais.
A troca de prisioneiros marca o início de uma nova etapa do acordo, que prevê uma retirada gradual das tropas da entidade sionista e a criação de um órgão administrativo provisório em Gaza, sob tutela de um comitê internacional liderado pelo ultrareacionário presidente Donald Trump. O plano, apresentado pelo EUA e aceito por “Israel”, propõe que o Hamas seja excluído do governo do território e que o desarmamento das forças palestinas ocorra na chamada “fase dois” do processo.
Trump comemorou o acordo como “um triunfo para Israel e o mundo” durante discurso no Parlamento sionista Knesset, em Jerusalém, onde afirmou que “a guerra acabou” e que “o amanhecer de um novo Oriente Médio” teria começado. O evento, contudo, foi marcado por protestos dentro e fora. Um parlamentar opositor foi expulso do plenário por seguranças após se manifestar contra o presidente ianque, em um raro gesto de dissenso dentro do Knesset.
Parlamentar oposicionista é retirado do Knesset após protestar durante discurso de Trump. Foto: Evan Vucci/AP
O plano de Trump, no entanto, enfrenta resistências crescentes. Ao prever uma “força internacional de estabilização” e uma “Junta de Paz” comandada pelo próprio mandatário ianque, o projeto é visto como tentativa de impor um protetorado imperialista sobre Gaza. O desenho político repete o modelo de ocupação indireta já utilizado pelo imperialismo ianque no Iraque, Afeganistão e Líbia – países devastados sob o pretexto de “reconstrução” e “governança democrática” –, convertendo Gaza em mais um protetorado disfarçado de administração internacional.
O Hamas reagiu prontamente à tentativa de desarmamento. Um dirigente da organização declarou à agência monopolista AFP que a exigência é “absolutamente fora de questão”, enquanto Hossam Badran, membro do Birô Político, afirmou que “as armas da Resistência são o direito natural de um povo sob ocupação” e pertencem “a todo o povo palestino”. Ele acrescentou que o desarmamento seria equivalente à rendição e que “nenhum povo ocupado pode abrir mão de sua defesa”.
A posição choca-se diretamente com o plano ianque, que condiciona a continuidade do cessar-fogo à entrega das armas e à anistia de combatentes que renunciem à luta armada. Badran admitiu que as negociações da “fase dois” serão muito mais difíceis e exigirão um diálogo nacional palestino unificado para formular uma resposta conjunta à pressão internacional. O Hamas também confirmou que participa das negociações apenas por meio de mediadores, recusando-se a comparecer à cerimônia de assinatura no Egito – principalmente tendo em vista os diversos ataques e sabotagens promovidos impunemente pela entidade sionista, como o ocorrido em Doha, no Catar.
Em entrevista à Al Mayadeen, Badran declarou que o movimento mantém sua plena prontidão militar e responderá imediatamente a qualquer violação da trégua pela entidade sionista. “Esperamos não retornar ao combate, mas se a agressão for imposta, responderemos com todas as nossas capacidades”, afirmou. O dirigente destacou que, apesar das perdas humanas e materiais, as Brigadas al-Qassam mantêm capacidade operacional que o inimigo “não conseguiu quebrar a espinha da Resistência”.
Enquanto isso, a Resistência Palestina consolida o controle de áreas antes ocupadas e avança na punição de colaboradores do nazi-sionismo, acusados de espionagem e sabotagem. Segundo apuração do portal Palestine Chronicle através de fontes locais, diversos agentes a serviço do inimigo foram capturados em Beit Lahia e Rafah. O Hamas também reorganiza as forças de segurança internas e amplia o recrutamento de combatentes, reforçando a coesão das fileiras.
Milícias populares administradas pelo Hamas também voltaram às ruas da Cidade de Gaza neste sábado (11/10), assumindo posições em cruzamentos e mercados para garantir a segurança da população e restabelecer a ordem nas áreas já livres da ocupação. Segundo declaração de um agente do Ministério do Interior à agência monopolista Reuters, o objetivo é “que as pessoas em luto sintam que há lei”, em referência ao retorno ordeiro das famílias, após meses de bombardeios.
Mílicias populares do Hamas patrulham as ruas de Gaza. Foto: Eyad Babba/AFP.
No plano político, as forças da Resistência articulam uma posição conjunta para as negociações futuras, em diálogo com a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) e outras facções. A prioridade é manter a unidade frente às pressões externas e impedir que o acordo seja usado para fragmentar a Resistência Nacional Palestina. A FPLP tem insistido na convocação de uma conferência Palestina ampla para definir uma estratégia comum.
Apesar da trégua, o cenário segue tenso e sob constante ameaça de violação sionista. A população de Gaza comemora a libertação dos prisioneiros, mas mantém-se firma contra imposição de uma ocupação disfarçada. O desarmamento exigido pelo imperialismo ianque permanece um ponto inegociável para a Resistência, que segue firme no propósito de repelir novas agressões e defender o direito de seu povo à autodeterminação.