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“Videogames são um instrumento de alegria”: de jogos de supermercado a Kingdom Hearts — a vida e composição de Yoko Shimomura

Fonte original: ign_br
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Entre nomes de estúdios, diretores, produtores e publishers, Yoko Shimomura conseguiu se destacar no mundo dos videogames com suas trilhas enigmáticas e sensíveis. A compositora por trás de clássicos como a franquia Kingdom Hearts, Street Fighter II e mais recentemente Final Fantasy XV nunca se imaginou chegando a este patamar ou sequer sendo reconhecida por seus feitos no mundo dos games.

(reprodução)

Em entrevista ao IGN Brasil durante sua passagem pela Brasil Game Show 2025, a compositora japonesa contou sobre sua infância, vida acadêmica, inspirações por trás de seu trabalho e a indústria gamer no Japão.

Esta é a quarta edição do Missão Zero, uma série de entrevistas com mulheres e integrantes da comunidade LGBTQ+ na área de games discutindo suas jornadas, desafios e infâncias com (ou sem) jogos. Entre as várias perguntas que fazemos aos entrevistados, destacamos uma parte aos seus estudos com o intuito de inspirar outras meninas, mulheres e pessoas queer que pensam em ingressar na área, mas não conhecem os diversos caminhos para chegar em determinada posição numa empresa de videogames ou até fundar seu próprio estúdio, agência ou publisher.

"Kingdom Hearts significa muito para mim": Yoko Shimomura, compositora da trilha sonora do jogo, não acreditava que a franquia seria um sucesso

Nascida em 1967, Shimomura se consagrou na história dos games com criações marcantes. Desde pequena ela sempre foi fascinada pelo mundo da música, compondo suas primeiras faixas bem nova, até que decidiu viver disso. Mas apesar de ter uma vida mais ligada ao mundo da composição, Shimomura sempre teve sua vivência no mundo dos games — até aqueles que não eram jogados em uma tela.

“O primeiro jogo que tenho memória é um jogo de baseball que nem tinha música. Jogava quando esperava minha mãe passar no supermercado…essa é minha lembrança mais remota que tenho,” disse Shimomura sobre sua primeira lembrança de videogames.

Seu pai também foi uma forte inspiração para esse mundo. Ela lembra que suas memórias mais importantes ligadas a isso foi jogar com ele, até o ponto que jogos passaram a ser muito “difíceis”.

“É muito difícil um pai e uma garota adolescente terem um tempo brincando e por isso tínhamos isso de jogar juntos. É uma lembrança muito forte de diversão…e isso quando os jogos nem tinham música,” falou.

Shimomura também citou o game Super Mario Bros. como uma dessas lembranças, mas contou que seu pai não jogava com ela por achar muito "complicado”, mas pelo menos ficava perto dela para vê-la.

“Jogos são um instrumento de alegria”

shimomura no piano na kingdom heart orchestra-world of trees- (divulgação)

Apesar de ter essa conexão com games desde cedo, Shimomura não pensava em seguir uma vida no ramo. Em 1988, ela se graduou da Faculdade de Música de Osaka do curso de piano, mas até naquele momento, houve uma incerteza por parte dos pais de pensar se ela conseguiria seguir com essa vida.

“Lá atrás tinha-se um modo de pensar diferente do de hoje e quando decidi seguir a carreira na música meus pais ficaram preocupados, mas eles sempre falaram ‘se é o que você quer fazer, se é o que gosta, faça o que te faz bem’”, lembrou ela sobre a visão dos pais.

Após sair da faculdade, ela pensou em trabalhos que dessem um bom retorno financeiro, como dar aulas de piano, mas viu um anúncio na Capcom. Claro, também não foi fácil falar para os pais que trabalharia com videogames, mas ela lembra que, igual ao que falaram sobre a faculdade de piano, eles repetiram o que disseram a ela anos atrás: siga o que você gosta.

“Seria bom se cada vez mais mulheres pudessem aparecer nesse cenário"

No mesmo ano que saiu da faculdade, Shimomura trabalhou em sua primeira trilha sonora profissionalmente com o jogo Samurai Sword. No ano seguinte, ela compôs três faixas para o Street Fighter II, sendo que uma delas era o tema de Blanka. Falando sobre sua experiência na Capcom, a compositora falou sobre como era a divisão do trabalho de lá, revelando mais sobre a indústria dita como algo majoritariamente masculina, mas suas revelações mostram um cenário um tanto diferente, ainda mais para o Japão, que ocupa o 116º lugar entre 146 países em igualdade de gênero.

“Foi muito interessante quando entrei na Capcom porque a equipe das trilhas sonoras era de somente sete pessoas, mas a grande maioria eram mulheres,” falou sobre a empresa no final da década de 1980. Ela conta que até na parte gráfica (que engloba design de personagens, coloração, desenhos etc.) e produção também tinham uma forte presença de mulheres.

(reprodução)

É interessante notar que mulheres sempre estiveram nos bastidores da criação de games. Um dos mais notáveis exemplos é Van Mai, uma imigrante vietnamita que se mudou para os EUA e criou o que é considerada a primeira protagonista nos games.

Claro, "altos cargos" ainda são bem masculinos, como direção e criação, nos quais ela aponta que há uma “grande diferença” de números.

“Seria bom se cada vez mais mulheres pudessem aparecer nesse cenário", concluiu.

Com mais de 30 anos na indústria, Shimomura foi honrada com um Lifetime Achievement Award pelo Game Developers Conference em 2024, e até agora é apenas a terceira mulher a ganhar tal prêmio. Já neste ano, a compositora também recebeu um BAFTA Fellowship, sendo a única mulher japonesa a ganhar tal honraria e se posicionando ao lado de Shigeru Miyamoto, da Nintendo, Shuhei Yoshida, da PlayStation, e Hideo Kojima.

“Nunca ganhei um prêmio desde criança. Nunca tirei o primeiro lugar nas corridas de ‘undokai’*, nunca nada. Sempre achei que era uma pessoa sem sorte e hoje ganhando várias premiações me sinto muito feliz.”

*Gincana esportiva ou evento esportivo. Equivalente ao “interclasses” no Brasil.

“Minha vida é a música"

(getty images/ian west/pa images)

Com tantas honrarias, Shimomura dá mais um grande passo para as mulheres no ramo dos videogames, tanto no Japão quanto no mundo. Ao ser questionada sobre a importância de tal prêmio para as mulheres, a compositora fica acanhada

“Não me considero uma mulher digna de inspiração,” disse rindo. “Sou só eu mesma”.

O mesmo equivale para quando ela é dita como a "Maior Compositora da História dos Games”, título dado por muitos fãs e jogadores ao redor do mundo.

“Existem outros compositores mais grandiosos do que eu”, falou envergonhada. “A música é algo muito pessoal, que toca as pessoas de modos diferentes. Quando alguém me fala isso, me sinto um pouco tímida, porque acredito que existem muitos outros profissionais melhores do que eu, mas se alguém me fala sobre minha música e como ela a tocou profundamente ou que é a melhor música que escutou ou que sou a melhor compositora que ela ouviu, se ouvir disso de um ou dois fãs, de cada pessoa…isso é muito importante para mim. Não disputo ser a melhor com ninguém, mas se alguém me fala essas coisas, fico imensamente feliz”.

Lendária compositora Yoko Shimomura afirma já estar compondo trilha sonora para Kingdom Hearts 4

É fácil falar que Shimomura já deixou sua marca no mundo com grandes criações no mundo dos games, com destaque a “Dearly Beloved”, faixa de Kingdom Hearts, e até composições próprias que publicou em álbuns fora do mundo dos games, afinal, ela vive pela música.

“Minha vida é a música,” disse sobre como quer ser lembrada. “Se alguém lá na frente lembrar que uma música é minha, mesmo que seja fora dos games, já fico satisfeita. Não penso em algo definido para além disso”.

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Conteúdo original disponível em https://br.ign.com/missao-zero/147167/opinion/videogames-sao-um-instrumento-de-alegria-de-jogos-de-supermercado-a-kingdom-hearts-a-vida-e-composic.

* arquivado em IPFS para garantir acesso permanente à informação original.

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