Em entrevista ao Roda Viva, na noite desta segunda-feira (13), Carlos Nobre, professor da USP e um dos principais especialistas em clima do Brasil, defendeu que a população vote em 2026 apenas em políticos que entendam os riscos que a amazônia corre.
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"Vamos eleger só políticos que vão lutar muito para evitar a emergência climática", disse.
Em uma referência indireta ao governo de Jair Bolsonaro (PL), ele disse que a amazônia não aguenta mais quatro anos de um governo negacionista em relação ao meio ambiente.
"Não, a amazônia não aguenta", disse Nobre.
"Então vamos torcer muito para que na próxima eleição, no ano que vem. Eleição de governadores, de deputados estaduais, deputados federais, senadores e presidente. Vamos realmente torcer para que a população só eleja políticos que vão entender o risco que a amazônia está passando. O Brasil inteiro [está em risco climático], mas a amazônia em particular está muito próxima do ponto de não retorno."
O professor destacou que seu ponto de vista em relação às eleições é independente de ideologias, ou seja, para defender a amazônia o político pode ser de esquerda, centro ou direita.
Ele destacou pesquisas que registram 23 pontos próximos de não retorno ao redor do mundo, o que inclui a floresta amazônica, que entraria em colapso devido ao desmatamento e causaria mudanças drásticas nos biomas brasileiros.
Mais cedo, também durante a entrevista, ele disse que a exploração de petróleo na margem equatorial do Amapá não faz sentido em termos climáticos.
O especialista falou sobre o risco de vazamento e sobre a importância de reduzir a exploração de combustíveis fósseis, para diminuir a temperatura do planeta.
Ao responder sobre a temperatura média global, o cientista afirmou que, sem a colaboração dos Estados Unidos, é preciso acelerar a transição energética e defendeu que o Brasil lidere essa mobilização mundial.
Nobre é também membro do Comitê de Responsabilidade Social Ambiental e Climática do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Questionado se o órgão não deveria cobrar condicionantes ambientais para fazer empréstimo, ele disse que o banco já está incentivando, com taxas de juros mais baixas, a transição sustentável.
"O BNDES cria um mecanismo de financiamento para a agricultura e a pecuária regenerativas, com uma taxa de juros bem menor e isso que ajudaria demais a essa transição. A transição está lenta. Então, não é nem a falta do financiamento é um pouco de uma mudança cultural do agronegócio brasileiro."