WASHINGTON - Os Estados Unidos revogaram os vistos de ao menos 50 políticos e funcionários do governo do México, em meio à ofensiva do presidente Donald Trump contra os cartéis de drogas no país. A medida, revelada pela agência Reuters, afeta figuras políticas que viajam com frequência aos EUA, ligadas ao partido governista Movimento Regeneração Nacional.
Segundo ex-embaixadores ouvidos pela agência, Washington já havia cancelado vistos de autoridades mexicanas no passado, mas nunca nessa escala.
“O governo Trump está encontrando novas maneiras de exercer pressão sobre o México”, disse Tony Wayne, ex-embaixador dos EUA no país entre 2011 e 2015. Para diplomatas, o gesto indica que o republicano pretende usar ferramentas diplomáticas para fins políticos e de segurança interna.
O presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca Foto: Alex Brandon/AP
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, afirmou durante coletiva de imprensa nesta terça-feira, 14, que não foi oficialmente informada sobre a decisão. Segundo ela, os EUA não costumam notificar o governo mexicano nesses casos, por se tratar de “informações pessoais” relacionadas aos indivíduos afetados.
A Reuters não obteve a lista de nomes, mas uma das fontes da agência disse que a maioria dos atingidos pertence ao partido governista Movimento Regeneração Nacional (Morena), fundado por Sheinbaum.
Um alto funcionário do Departamento de Estado dos EUA, sob anonimato, afirmou que vistos, inclusive de autoridades estrangeiras, podem ser revogados a qualquer momento por atividades contrárias aos interesses nacionais dos Estados Unidos, o que inclui tráfico de drogas, corrupção, espionagem, imigração ilegal ou permanência irregular.
No México, a medida foi recebida como uma escalada de tensão nas já complexas relações com Washington. O governo Sheinbaum vinha colaborando com os EUA em ações de segurança e combate aos cartéis, mas a presidente rejeita as reiteradas ameaças de Trump de empregar forças militares americanas em território mexicano, por considerar que violaram a soberania nacional.
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Em agosto, Trump ordenou que o Exército americano combatesse diretamente os cartéis, designados como “organizações terroristas globais”. A presidente mexicana reagiu de forma dura, afirmando que não permitirá a presença de tropas estrangeiras em solo mexicano.
A ofensiva diplomática também tem se estendido a outros países da América Latina. No Brasil, ao menos 18 autoridades tiveram os vistos revogados até setembro, entre elas ministros do Supremo Tribunal Federal (Flávio Dino, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia, Edson Fachin, Luís Roberto Barroso) e o procurador-geral da República, Paulo Gonet. O advogado-geral da União, Jorge Messias, também foi alvo da medida.
Além disso, o governo Trump incluiu o ministro Alexandre de Moraes e sua mulher, Viviane Barci de Moraes, na Lei Magnitsky, que impõe sanções a violadores de direitos humanos.
O Departamento de Estado norte-americano anunciou no mês passado que revogaria o visto do presidente da Colômbia, Gustavo Petro, após o colombiano discursar em uma manifestação pró-Palestina em Nova York. Petro rebateu afirmando que a medida “viola todas as regras de imunidade”.
Na Costa Rica, pelo menos 14 políticos e líderes empresariais, incluindo o ex-presidente e ganhador do Prêmio Nobel da Paz Oscar Arias, também tiveram os seus vistos revogados pelo governo Trump.